Inferno - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 36 / 102

Quíron voltou-se para a direita e disse a Nesso: «Volta e condu-los e afasta qualquer outro bando que vos saia ao caminho.» Deitámos então a andar com aquela fiel escolta ao longo da rubra ribeira borbulhante, onde os que ferviam soltavam grandes gritos. Vi gente afundada até as sobrancelhas, e o centauro grande disse: «São tiranos que viveram do sangue e da pilhagem e aqui choram seus cruéis malefícios; aqui estão Alexandre" e o feroz Dionísio, que fez a Sicília conhecer anos dolorosos. E aquela fronte que o cabelo tem tão negro é de Azzolino; o outro, loiro, é Obizzo d'Este, que em verdade foi morto por seu enteado lá em cima no mundo.» Nesse momento voltei-me para o poeta, o qual disse: «Que este seja agora o teu primeiro e eu guia segundo.»

Pouco adiante, o Centauro deteve-se diante de outra gente que até à garganta parecia sair daquele borbulhar. Mostrou-nos a um canto uma sombra sozinha e disse: «Este no próprio seio de Deus trespassou o coração, que sobre o Tamisa sangra ainda.» Depois vi gente que a cabeça tinha fora do rio e até ao peito inteiro, e entre eles reconheci bastantes. Assim, cada vez mais ia baixando o nível daquele sangue, que já fervia só até aos pés, e foi aí que atravessamos. «Assim como deste lado, ao que vês, baixa de altura o borbulhar», disse o Centauro, «quero que saibas que do outro é cada vez mais profundo, até chegar ao local em que os tiranos deverão gemer. A justiça divina ali castiga aquele Átila que na Terra foi flagelo, e Pirro e Sexto, e eternamente choram o pranto que este fervor suscita Raniero da Corneto e Raniero Pazzo, que nos caminhos tantas felonias cometeram.» Depois voltou-se e atravessou o vau.





Os capítulos deste livro