Inferno - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 54 / 102

Estávamos já onde o caminho estreito com a segunda margem cruza, servindo de apoio a outro arco. Ali ouvimos gente que no outro fossos gemia e que pelo nariz resfolegava e com as próprias mãos se flagelava. A margem estava recoberta de uma crosta feita do vapor de baixo ao condensar-se, que perturbava os olhos e o nariz. O fundo era tão sombrio que nada viemos a não ser subindo ao cimo do arco, onde o rochedo se prolongava mais sobre ele. Ali nos colocamos e então vi gente no fosso afundada numa esterqueira tal que de fezes humanas parecia feita. E, enquanto com a vista procurava, vi um que de tantas fezes tinha a cabeça cheia que não podia saber-se se era padre ou leigo.

E ele gritou-me: «Porque estás tão ansioso por mais que aos outros emporcalhados me fitar?» E eu tornei-lhe: «Porque, se bem recordo, com cabelos limpos te vi já e és Alessio Intermini, de Luca: por isso mais que aos outros todos te contemplo.» E ele, então, batendo na cabeça: «Aqui me submergiram as lisonjas, das quais nunca a língua se me fatigou.»

Depois disse o meu guia: «Avança um pouco mais o rosto, para que possas ver distintamente a face daquela mulher suja e desgrenhada que além se arranha com as unhas repletos de fezes e ora se agacha, ora de pé se põe. É Tais', a prostituta que, quando lhe perguntou o seu querido: 'Tenho grandes atractivos para ti?', lhe respondeu: 'Maravilhosos mesmo!' E com isto se sacie a nossa vista.»





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