Inferno - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 8 / 102

E, ao olhar, vi uma bandeira que flutuava tão depressa correndo que todo e qualquer repouso parecia desprezar; atrás vinha tão grande multidão de gente que eu mal podia crer que tantos a morte houvesse destruído. Como tivesse conhecido alguns, vi e recordei a sombra do que, devido à cobardia, da grande renúncia foi autor . Imediatamente percebi, e fiquei certo de que aquela era a seita dos cobardes, que a Deus não agradam nem aos seus inimigos.

Aqueles infelizes, que nunca a vida verdadeira conheceram, estavam nus e continuamente eram picados por vespas e moscardos que no lugar voavam. Assim lhes sulcavam o rosto de sangue, o qual, com lágrimas misturado, aos seus pés era colhido por repelentes vermos.

Depois, olhando mais ao longe, vi gente na margem de um grande curso de água, razão pela qual disse: «Mestre, digna-te dizer-me quem são e o que os leva a tão ansiosos parecerem por atravessar, como se me afigura a esta luz tão débil.» E ele respondeu: Ser-te-á dito quando detivermos a nossa caminhada na triste margem do Aqueronte.

Baixei então envergonhadamente os olhos e, temendo importuná-lo com as minhas palavras, guardei-me de falar até ao rio chegarmos. E eis que numa barca surgiu, direito a nós, um velho de cabelos que o tempo embranquecera4, gritando: «Ai de vós, almas perversas! Não espereis voltar a contemplar o Céu. Venho para à outra margem vos levar, a das trevas eternas, do fogo e do gelo. E tu, alma vivente que aqui estás, afasta-te dos que morreram já!» Porém, ao ver que eu não me ia, disse mais: «Por outro caminho, por porto diferente atingirás a praia, pois convém que barca mais leve te transporte.»

E disse-lhe o meu guia: «Caronte, não te zangues. Assim ordenam donde se pode tudo o que se quer, e mais não me perguntes.» Suavizou-se então o barbada rosto do barqueiro da lagoa pantanosa, que em redor dos olhos tinha um circulo de chamas.





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