1984 - Cap. 4: Capítulo IV Pág. 47 / 309

Ou quiçá -era o mais provável - a coisa tivesse sucedido apenas porque Os expurgos e as vaporizações eram parte necessária da mecânica do governo. A única revelação positiva estava nas palavras "refs impessoas", que indicavam que Withers já morrera. Não se devia imaginar isso, automaticamente, quando as pessoas eram detidas. Às vezes eram postas em liberdade e assim continuavam um ano ou dois, antes de executadas. Muito raramente, pessoas que se acreditavam mortas havia muito tempo, reapareciam como fantasmas num julgamento público, implicavam centenas de outras com seu testemunho e tornavam a desaparecer, então para sempre. Withers, todavia, já era uma impessoa. Não existia; nunca existira. Winston resolveu que não bastaria inverter a tendência do discurso do Grande Irmão, Seria melhor focalizar um assunto completamente desligado do tema original.

Poderia transformar a oração na denúncia costumeira dos traidores e ideocriminosos, porém isso daria um pouco na vista, enquanto que inventar uma vitória na frente, ou algum triunfo de superprodução no Nono Plano Trienal, poderia complicar demais os registros. Era preciso uma peça de pura fantasia. De repente, brotou-lhe na mente, sob medida, a imagem de um tal Camarada Ogilvy, recém-falecido em combate, em circunstâncias heroicas. Ocasiões havia em que o Grande Irmão dedicava a sua Ordem do Dia ao tributo de um humilde membro do Partido, um soldado raso, cuja vida e morte podiam ser apontadas como exemplos dignos de ser seguidos. Hoje, ele homenagearia o Camarada Ogilvy. Bem verdade, não existira essa pessoa, porém umas linhas de tipo e um par de fotos falsificadas logo lhe dariam vida.

Winston pensou um momento, puxou





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