Winston arranhou o nariz, de leve, com um grampo de papel. No cubículo do outro lado o Camarada Tillotson ainda se inclinava furtivo sobre o falascreve. Levantou a cabeça por um momento: de novo o lampejo hostil dos óculos. Winston indagou de si próprio se acaso o Camarada Tillotson estava fazendo o mesmo que ele. Era perfeitamente possível. Trabalho tão delicado não devia nunca ser confiado a uma só pessoa; por outro lado, entregá-lo a um comité seria admitir abertamente a falsificação. O mais provável era que umas doze pessoas estivessem trabalhando em versões rivais do que na verdade dissera o Grande Irmão. Mais tarde, algum cérebro privilegiado do Partido Interno escolheria esta ou aquela versão, retocá-la-ia nalguns pontos e daria início aos complicados processos de referência cruzada necessários, e daí a mentira selecionada passaria aos anais permanentes, tornando-se verdade.
Winston não sabia porque Withers se desgraçara. Talvez por incompetência ou corrupção. Talvez o Grande Irmão apenas desejasse se livrar de um subordinado demasiado Popular. Ou quem sabe Withers, ou alguém ligado a ele tivesse sido suspeito de tendências heréticas.