Um Estudo em Escarlate - Cap. 9: 2 - A Flor de Utá Pág. 78 / 127

Outros falavam de uma aventura amorosa no passado e de uma rapariga de cabelo loiro que definhara com desgosto nas costas do Atlântico. Fosse qual fosse o motivo, Ferrier continuava celibatário. Nos outros aspectos adoptou-se à religião da jovem colónia e ganhou a reputação de homem ortodoxo e recto.

Lucy Ferrier cresceu na casa de cepos e ajudava o seu pai adoptivo em todas as tarefas. O ar revigorante das montanhas e o odor balsâmico dos pinheiros substituíram, junto da jovem, a enfermeira e a mãe. À medida que os anos passavam, ia ficando mais alta e mais forte, o rosto mais corado e o andar mais elástico. Na estrada nacional, que passava perto da quinta de Ferrier, muitos viajantes sentiam reviver nos seus espíritos pensamentos há muito esquecidos quando viam o seu corpo ágil, como o de uma menina, a correr por entre os campos de trigo ou a encontravam montada no mustang do pai, que ela montava com a graciosidade de uma autêntica criança do Oeste. Assim, o botão desabrochou em flor e no ano em que o pai era o mais rico dos rendeiros, estava o espécime mais belo da adolescência feminina da América que se podia encontrar em toda a encosta do Pacífico.

Todavia, não foi o pai o primeiro a descobrir que a criança se transformara numa mulher. Nestes casos, isso raramente acontece. Esta misteriosa alteração é demasiado subtil e gradual para ser datada. A própria rapariga é a última a sabê-lo, até que o tom de voz ou o toque de uma mão faz palpitar o seu coração, e toma conhecimento, num misto de orgulho e receio, que uma natureza nova e maior despertou dentro dela. Poucos são os que não se conseguem lembrar desse dia e recordar o pequeno incidente que anuncia a chegada de uma nova vida. No caso de Lucy Ferrier, esse momento foi bastante sério, para além da futura influência que viria a exercer no seu destino e no de muitas pessoas.

Era uma manhã quente de Junho, e os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias andavam atarefados como as abelhas, cuja colmeia haviam escolhido para sua divisa. Nos campos e nas ruas erguia-se o mesmo zumbido do trabalho humano.





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