Barão era o mais belo dos castelos e a Srª. Baronesa a melhor das baronesas possíveis.
«Está demonstrado», dizia ele, «que as coisas não podem ser de outra maneira: porque, tendo tudo sido feito para um fim, necessariamente o foi para o melhor dos fins. Reparai bem que os narizes foram feitos para trazer óculos; por isso nós os usamos. As pernas foram visivelmente instituídas para andarem calçadas; por isso nós usamos sapatos. As pedras foram formadas para serem talhadas e para delas se fazerem castelos; por isso Monsenhor tem um tão lindo castelo: o maior barão da província deve ser o mais bem instalado. E como os porcos foram feitos para serem comidos, assim nós comemos carne de porco todo o ano. Por conseguinte, os que afirmaram que tudo está bem disseram apenas uma asneira, porque deveriam ter dito antes que tudo está o melhor possível.»
Cândido ouvia tudo isto com a maior atenção e acreditava inocentemente, porque achava a menina Cunegundes extremamente bela, embora nunca tivesse ousado dizer-lho. Concluía que, depois da felicidade de ter nascido barão de Thunder-ten-tronckh, o segundo grau de felicidade era ser Cunegundes; o terceiro, vê-la todos os dias; o quarto, ouvir mestre Pangloss, o maior filósofo de toda a província, e por conseguinte de todo o mundo.
Um dia, Cunegundes, andando a passear junto do castelo, no pequeno bosque a que chamavam parque, viu entre os arbustos o Dr. Pangloss a dar uma lição de física experimental à criada de quarto de sua mãe, uma moreninha muito linda e muito dócil. Como a menina Cunegundes tinha muita inclinação para as ciências, observou, sem fazer barulho algum, as reiteradas experiências de que foi testemunha. Viu claramente a razão suficiente do doutor, os efeitos e as causas, e foi-se embora toda agitada, pensativa e cheia de desejo de ser sábia, pensando que ela bem podia ser a razão suficiente do jovem Cândido, como este podia ser a sua.