O regimento era composto por dois mil homens, o que equivale a ter recebido quatro mil varadas, que lhe tiraram a pele, desde o pescoço ao rabo, deixando-lhe os músculos e os nervos à mostra. Quando se ia proceder à terceira volta, Cândido, que já não podia mais, pediu que lhe concedessem a graça de lhe esmigalharem a cabeça. Concederem-lhe tal graça, vendaram-lhe os olhos e mandaram-no ajoelhar. Neste preciso momento, passa o rei dos Búlgaros e informa-se do crime do paciente. E como este rei era um grande génio, compreendeu por tudo o que soube de Cândido, que ele era um jovem metafísico muito ignorante das coisas deste mundo, e concedeu-lhe a sua graça com uma clemência que será louvada em todos os jornais e em todos os tempos. Um excelente cirurgião curou Cândido em três semanas com os emolientes aconselhados por Dioscórides1. Já tinha alguma pele e podia andar quando o rei dos Búlgaros deu batalha ao rei dos Árabes.