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Capítulo 14: Capítulo 14

Página 115

A chama enredou-se na tela: um rolo de fumo espesso trepou em espirais, enegrecendo-lhe os recamos e lavores brilhantes. Em breve, as labaredas abraçadas com os feixes de lanças, com os panos custosos, que ondeavam torcendo-se, treparam até o cimo e, curvando-se espalmadas sob o tecto, romperam em línguas ardentes aprumadas para o céu. O incêndio, espalhando ao longe a sua sinistra claridade, erguia-se como um tocheiro disforme aceso no meio do arraial e despertava assim do sono profundo os soldados de Al-Sudan lançados em volta do pavilhão do amir.

Mas já a este tempo o cavaleiro se afastara do lugar daquela cena medonha. As palavras Liberdade e Pelágio! proferidas por ele tinham calado como um bálsamo de vida no coração de Hermengarda. O desconhecido, tomando-a nos braços, atravessou ligeiro para o lado do arraial onde estanciavam os godos. Outro cavaleiro lhe tinha de rédea dois ginetes. Hermengarda, a quem o perigo e a esperança haviam restituído toda a natural energia, não hesitou em acompanhar o seu audaz e misterioso salvador. Seguindo os caminhos tortuosos e incertos que as tendas do imenso arraial formavam e guiando-se pela Lua, que principiava a sair detrás dos outeiros, os três fugitivos encaminharam-se para o lado do campo além do qual as montanhas, lá ao longe, reflectiam já o luar das cumeadas cobertas de neve.

Entretanto Al-Fehri correra a despertar os negros da guarda do amir, e o cavaleiro ainda ouviu os gritos destes ao contemplarem o incêndio mais prestes em acordá-los que o eunuco. À entrada da tenda, o vigia que devera despertá-los ao primeiro sinal de Abdulaziz havia adormecido de sono mais profundo que o deles. Um punhal enterrado na garganta até o punho lhe selara para sempre os lábios. Os gestos de desesperação de Al-Fehri fizeram conhecer aos soldados o perigo do amir. Por entre as chamas, ferido e semimorto, a custo puderam salvá-lo. Pouco a pouco, o tumulto alongou-se pelo arraial: os xeiques árabes e os capitães de Juliano corriam para o lugar onde brilhava o incêndio, e, dentro em pouco, as vozes desentoadas, o tocar das trombetas, o rufar dos tambores, o tropear dos cavalos naquela vasta planície fariam crer a quem olhasse para ali dos montes vizinhos que no arraial se pelejava uma batalha nocturna.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 115

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176