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Capítulo 18: Capítulo 18

Página 160

A morte; esta ideia, tremenda, indiferente ou formosa, segundo a vida é risonha, pálida ou negra, veio suavizar o martírio daquela alma atribulada, como em estio ardente as grossas águas da trovoada refrigeram a terra, que estua sob os raios aprumados do Sol. Tinha-a buscado; buscado com a placidez horrível da desesperança; como um remédio de cuja eficácia a consciência da imortalidade o fazia duvidar. Seria não mais do que ir deitar-se em leito de dores eternas? Talvez: mas a mudança podia ser refrigério: tanto bastava. A morte parecia, contudo, fugir dele para que nem este último desejo se lhe cumprisse. Houve um instante em que lhe ocorreu o pensamento de subir ao pináculo escarpado do Auseba e despenhar-se no vale. Refugiu desta ideia, porque era covarde. Eurico, o sacerdote-soldado, não devia fenecer ímpia e vilmente; devia depor o peso intolerável da vida no campo das batalhas pelejadas em nome da Cruz e da Espanha. E no recontro daquele dia, uma voz íntima lhe murmurava que o havia de obter.

Este anelar pela morte era uma bem triste cobiça! E quando se lembrava de que essa mulher que aí jazia a poucos passos dele; essa mulher, em cuja adoração concentrara todos os afectos dos mais formosos dias da vida; cuja imagem sonhada nas solidões do Calpe, desenhada de contínuo diante dos olhos da sua alma, gravada como um selo de saudade e de amargura em todas as suas cogitações; essa mulher que, pouco havia, por horas de delicioso delírio, apertara contra o peito, e que pudera, outrora, torná-lo o mais feliz dos homens; quando se lembrava de que sobre isso tudo ele deixara cair a campa de bronze do sacerdócio, que ninguém podia erguer, o desgraçado sentia estalarem-lhe uma a uma todas as fibras do coração, e fugir-lhe do seio um grito semelhante ao que rebenta dos lábios do condenado ao suplício do potro, no primeiro movimento da mão pesada do algoz.

E, como se quisesse ainda mais saciar-se de dor, encaminhou-se para o lado onde Hermengarda repousava.

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pág. 160 (Capítulo 18)

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 160

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176