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Capítulo 18: Capítulo 18

Página 159

Desde que um amor desditoso o fizera alevantar uma barreira entre si e o ruído do mundo; desde que se votara às solenes tristezas da soledade e a derramar benefícios e consolações sobre a cabeça dos miseráveis e humildes; pela alta noite do seu viver muitas vezes fulgurara uma luz de alegria, como esses astros que brilham a espaços nos abismos do firmamento. Lá, ao menos, havia instantes em que se esquecia do seu destino. Mas, depois que o frenesi das batalhas o arrastara; depois que trocara as harmonias das tempestades do Calpe e o rugido das vagas do Estreito pelo gemer de moribundos nos combates e pelo retinir dos golpes, nunca mais descera um raio de cima a alumiar-lhe o espírito. O seu presente e o seu porvir eram, como esse vale, um precipício sem fundo, indelineável, tenebroso, maldito.

E pelo céu tão plácido e melancólico; pelo céu, que ele às vezes se punha a contemplar às horas mortas no pobre presbitério de Carteia ou assentado em algum promontório, a sua imaginação voou até os desvios do Sul, e as lágrimas de saudade começaram a rolar-lhe mansamente pelas faces. O desventurado tinha saudades das tristezas do ermo, porque já não podia ter desejos dos contentamentos humanos.

Engolfado naquelas cogitações dolorosas, o guerreiro conservou- se por algum tempo imóvel e com os olhos cravados nos astros cintilantes, que pareciam sorrir-lhe e chamá-lo para o seio imenso do Senhor. As lágrimas correram-lhe então mais abundantes, e o coração parecia dilatar-se-lhe com o pensamento da morte. Insensivelmente ajoelhou e estendeu as mãos para o firmamento: os seus lábios murmuravam com cicio quase imperceptível. Era a oração de alma, férvida, procelosa, que os agitava; era essa oração que todos nós sabemos no momento de suprema agonia e que nenhumas palavras, nenhuma escritura poderiam representar: oração que é um mistério entre Deus e o homem e que nem os anjos compreendem: gemido enérgico de todas as misérias terrenas, cuja intensidade só a Providência, que as acumula ou dissipa, sabe pesar nas balanças da justiça e da piedade divinas.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 159

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176