Fora no momento em que Pelágio penetrava, na sua fingida fuga, sob o vasto portal da gruta que o cavaleiro negro saía. O jovem guerreiro viu-o e estremeceu. Eurico tinha as faces encovadas, o rosto pálido e transtornado, e havia em todo o seu gesto uma tão singular expressão de tranquilidade que fazia terror. Enquanto os cristãos defendiam a entrada ele esteve quedo, como indiferente ao combate; mas, logo que os árabes, acometidos já pelas costas, principiaram a recuar, e que Pelágio pôde combater na planície, o cavaleiro, abrindo caminho com o franquisque, desapareceu no meio dos inimigos. Desde esse momento, debalde o duque de Cantábria o buscou: nem ele, nem ninguém mais o viu.
Era quase ao pôr do Sol. Seguindo a corrente do Deva, a pouco mais de duas milhas das encostas do Auseba, dilatava-se nessa época denso bosque de carvalhos, no meio do qual se abria vasta clareira, onde sobre dois rochedos aprumados assentava um terceiro. Era, provavelmente, uma ara céltica. Em frente de tosca ponte de pedras brutas lançada sobre o rio, uma senda estreita e tortuosa atravessava a selva e, passando pela clareira, continuava por meio dos outeiros vizinhos, dirigindo-se, nas suas mil voltas, para as bandas da Galécia. Quatro cavaleiros, a pé e em fio, caminhavam por aquele apertado carreiro. Pelos arejos e armas, conhecia-se que eram três cristãos e um sarraceno. Chegados à clareira, este parou de repente e, voltando-se com aspecto carregado para um dos três, disse-lhe:
— Nazareno, ofereceste-nos a salvação, se te seguíssemos: fiámo-nos em ti, porque não precisavas de trair-nos. Estávamos nas mãos dos soldados de Pelágio, e foi a um aceno teu que eles cessaram de perseguir-nos. Porém o silêncio tenaz que tens guardado gera em mim graves suspeitas. Quem és tu? Cumpre que sejas sincero, como nós. Sabe que tens diante de ti Mugueiz, o amir da cavalaria árabe, Juliano, o conde de Septum, e Opas, o bispo de Híspalis.