Firmes, os guerreiros cristãos vibram a pesada acha que tomaram dos Francos ou jogam a espada curta e larga dos antigos Romanos; porque as lanças voaram em rachas tanto das mãos dos godos, como das dos árabes. Estes, curvados sobre os colos dos cavalos e cobertos com os leves escudos, volteiam em roda dos adversários, e, quase ao mesmo tempo, os acometem por um e por outro lado, tão rápido é o seu perpassar. Nesta luta da força e da destreza, ora o duro neto dos Visigodos, deslumbrado pelo incessante dos golpes, esvaído pelas muitas feridas, sufocado pelo peso da armadura, vacila e cai, como o pinheiro gigante; ora o ligeiro agareno vê coriscar em alto o franquisque e logo o sente, se ainda sente, embargar-lhe o último grito na garganta, até onde rompeu, partindo-lhe o crânio, e sulcando-lhe o rosto. Assim, os centros dos dois exércitos semelham o tigre e o leão no circo, abraçados, despedaçando-se, estorcendo-se enovelados, sem que seja possível prever o desfecho da luta, mas tão somente que, ao adejar a vitória sobre um dos campos, terá descido sobre o outro o silêncio e o repouso do aniquilamento.
Os soldados que seguiam a bandeira de Teodemiro tinham-se abalado para o combate apenas viram partir os esquadrões de Roderico.
A ala direita dos maometanos era capitaneada pelo amir da cavalaria africana, Mugueiz, a quem a sua origem cristã fizera dar o nome de Al-Rumi. O amir era o mais valente e experimentado dos capitães de Táriq, e por isso este fiara do renegado o mando daquela ala, na qual também esvoaçava o pendão de Juliano, que, se não abandonara, como Al-Rumi, a crença do Calvário, tinha, contudo, amaldiçoado também a santa religião da pátria. Estes dois guerreiros, ferozes ambos, um por índole e hábito, outro por vingança e ambição, amavam-se mutuamente, porque os fizera irmãos uma palavra escrita em suas consciências, a máxima afronta humana, o nome de renegados.