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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 8

Todas as condições se livelavam onde ele aparecia; porque, pai comum daqueles que a Providência lhe confiara, todos para ele eram irmãos. Sacerdote do Cristo, ensinado pelas largas horas de íntima agonia, esmagado o seu coração pela soberba dos homens, Eurico percebera, enfim, claramente que o cristianismo se resume em uma palavra — fraternidade. Sabia que o Evangelho é um protesto, ditado por Deus para os séculos, contra as vãs distinções que a força e o orgulho radicaram neste mundo de lodo, de opressão e de sangue; sabia que a única nobreza é a dos corações e dos entendimentos que buscam erguer-se para as alturas do céu, mas que essa superioridade real é exteriormente humilde e singela.

Pouco a pouco, a severidade dos costumes do pastor de Carteia e a sua beneficência, tão meiga, tão despida das insolências que costumam acompanhar e encher de amargor para os miseráveis a piedade hipócrita dos felizes da terra; essa beneficência que a religião chamou caridade, porque a linguagem dos homens não tinha palavra que exprimisse rigorosamente um afecto revelado à terra pela vítima do Calvário; essa beneficência que a gratidão geral recompensava com amor sincero tinha desvanecido gradualmente as suspeitas odiosas que o proceder extraordinário do presbítero suscitara a princípio. Enfim, certo domingo em que, tendo aberto as portas do templo, e havendo já o salmista entoado os cânticos matutinos, o ostiário buscava cuidadoso o sacerdote, que parecia ter-se esquecido da hora em que devia sacrificar a hóstia do cordeiro e abençoar o povo, foi encontrá-lo adormecido junto à sua lâmpada ainda acesa e com o braço firmado sobre um pergaminho coberto de linhas desiguais. Antes de despertar Eurico, o ostiário correu com os olhos a parte da escritura que o braço do presbítero não encobria. Era um novo hino no género daqueles que Isidoro, o célebre bispo de Híspalis, introduzira nas solenidades da Igreja goda. Então o ostiário entendeu o mistério da vida errante do pastor de Carteia e as suas vigílias nocturnas. Não tardou em espalhar-se na povoação e nos lugares circunvizinhos que Eurico era o autor de alguns cânticos religiosos transcritos nos hinários de várias dioceses, e uma parte dos quais brevemente foi admitida na própria Catedral de Híspalis. O carácter do poeta tornou-o ainda mais respeitável.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 8

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176