Num relance Pelágio o conhecera.
— Aldefonso! onde está Hermengarda? Bucelário! onde está a filha do teu patrono?
O velho tentou responder; porém não pôde, e continuou a soluçar.
— Entendo-te: é morta! Nunca mais te verei, minha pobre irmã! — murmurou o mancebo, escondendo o rosto entre as mãos. Ao gardingo, que durante esta cena se conservara imóvel, fugiu um gemido abafado. Depois, levou o punho cerrado à fronte, como se quisesse conter aí uma ideia dolorosa que tentava resfolegar. Houve um largo espaço de temeroso silêncio. O velho quebrou-o por fim:
— Não; não é morta! Mas, porventura, ainda o seu fado é mais horrível. Jaz cativa em poder dos infiéis. Não me foi dado salvá-la, e não quis morrer sem vos dar esta nova cruel. Agora...
Um brado de Pelágio atalhou as palavras do bucelário sufocadas pelo choro.
— As minhas armas e o meu cavalo! Que me dêem o meu franquisque! Velho vilíssimo, já que não soubeste deixar-te despedaçar junto dela, dize, ao menos, onde poderei encontrar os pagãos que cativaram Hermengarda.
Lavado em lágrimas, o ancião narrou-lhe em breves palavras os sucessos que se haviam passado no Mosteiro da Virgem Dolorosa. Ele tinha feito tudo para a resolver a tentar a fuga.