O aperfeiçoamento não se deve geralmente, de modo algum, ao cruzamento de linhagens diferentes; todos os melhores criadores se opõem energicamente a esta prática, excepto por vezes entre sub-linhagens intimamente próximas. Ao fazer um cruzamento, a selecção mais rigorosa é inclusive muitíssimo mais indispensável do que nos casos comuns. Se a selecção consistisse meramente em separar uma variedade muito distinta e fazer criação a partir desta, o princípio seria tão óbvio que quase não seria digno de nota; mas a sua importância consiste no grande efeito produzido pela acumulação, numa só direcção, durante gerações sucessivas, de diferenças absolutamente inapreciáveis para um observador inexperiente - diferenças que eu, por exemplo, em vão procurei apreciar. Nem um homem em cada mil tem a acuidade visual e o discernimento suficientes para se tornar um ilustre criador. Se é dotado com estas qualidades e durante toda a sua vida dedica anos de trabalho ao seu objecto de estudo com inabalável perseverança, será bem-sucedido e fará progressos enormes; se lhe falta qualquer uma destas qualidades, irá seguramente fracassar. Poucas pessoas teriam facilidade em acreditar no talento natural e nos anos de prática que são necessários mesmo para fazer um criador de pombos competente.
Os mesmos princípios são seguidos pelos horticultores; mas as variações aqui são frequentemente mais abruptas. Ninguém supõe que as nossas mais excelentes produções foram alcançadas por uma única variação a partir da casta aborígene. Temos provas de que nalguns casos, em que se manteve registos exactos, isto não acontece; assim, para dar um exemplo bastante trivial, pode-se referir a taxa constante de crescimento da groselheira comum. Observamos um melhoramento surpreendente nas flores de muitos floristas, quando se compara as flores de hoje em dia com os desenhos feitos há apenas vinte ou trinta anos.
