Robinson Crusoe - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 102 / 241

Apesar disso, tornavam a apresentar-se-me imensas dificuldades, pois não sabia como moer o grão, peneirá-lo e, finalmente, como, depois de ter obtido a farinha, poderia cozer o pão. Todos estes obstáculos, unidos ao desejo que criara de juntar as provisões suficientes para assegurar a minha subsistência, decidiram-me a conservar toda a colheita para a sementeira do ano seguinte, procurando empregar todo o meu engenho e horas de trabalho numa tarefa tão importante como a de colher o grão e fazer o pão. Seja-me permitido dizer que nesta altura (usando uma expressão comum) trabalhava para ganhar o meu pão.

Os preparativos, o trabalho e a quantidade de objectos necessários para chegar a produzir o que vulgarmente se chama um bocado de pão, são admiráveis; e, apesar de tudo, poucos são aqueles que reflectem sobre isso. Quanto a mim, reduzido aos meus próprios recursos, vi-me forçado a conhecer todas essas dificuldades; pareciam-me cada dia maiores, mesmo depois de ter colhido o pouco grão que crescera de um modo tão portentoso. Em princípio, necessitava de um arado para abrir a terra, depois de enxada para lavrá-la; a pá de madeira, de que já falei, servia-me então, mas de uma maneira muito imperfeita. Apesar de ter gasto muitos dias a fazê-la, como não estava guarnecida de ferro, depressa se estragou; por tal motivo o meu trabalho passou a ser mais lento, mais penoso e menos perfeito; mas tinha-me resignado a todas essas contrariedades, e suportava com paciência as dificuldades do trabalho.

Já feita a sementeira, faltava-me um ancinho; a falta deste instrumento, arranjei um tronco grosso, que arrastava por cima da minha lavra, e com o qual mais levantava a terra do que a igualava, como se faz com o ancinho.

Até o grão se converter em erva, depois em espigas e, finalmente, amadurecer, quantos cuidados foram precisos para cercá-lo, defendê-lo, segá-lo, secá-lo, transportá-lo, trilhá-lo, peneirá-lo e guardá-lo! Isto não era ainda tudo: precisava de um moinho para moer o grão, de uma peneira para a farinha, de sal para a temperar, de levedura para produzir a fermentação e, finalmente, de um forno para cozer o pão; mesmo assim, ver-se-á como cheguei a conseguir tudo isto.





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