Robinson Crusoe - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 106 / 241

Jamais alegria humana igualou a que senti ao ver que chegara a fabricar uma panela de barro que podia levar ao lume. Quase não tive paciência para esperar que arrefecesse; e assim que tal aconteceu enchi-a de água para cozer a carne, o que obteve um êxito feliz. Apesar de não ter nenhum dos ingredientes necessários para fazer um verdadeiro caldo, um pedaço de lama produziu um excelente.

Do que eu precisava a seguir era de um almofariz para moer o grão, porque ainda não me tinha ocorrido construir um moinho, por saber que era uma máquina que necessitava de todos os recursos da arte '. Via-me muito perplexo para fazer isto, porque me senha sem a mínima disposição para o ofício de canteiro, não tendo, aliás, nenhuma das ferramentas exigidas para isso. Durante muitos dias andei à procura de uma pedra que fosse bastante grossa para a poder esvaziar em forma de almofariz, mas não encontrei nenhuma em toda a ilha. Se tivesse possuído instrumentos adequados, teria podido fazê-lo com alguns bocados de rocha da ilha, apesar daquelas rochas serem demasiado macias, pois todas elas eram sedimentárias, incapazes de resistir aos golpes de uma mão pesada, e o grão não poderia ser moído sem se encher de poeiras. Depois de perder muito tempo em busca da pedra, abandonei a ideia e tomei a resolução de escolher no bosque um grosso tronco de árvore dura. Em breve dei com um como desejava, que arredondei por fora com o machado; depois esvaziei-o, não sem trabalho, com o auxílio do fogo, como fazem os índios no Brasil para construírem as suas canoas. Tendo a seguir feito com a madeira chamada pau-de-ferro o pilão do almofariz, guardei aqueles utensílios assim preparados, à espera da minha segunda colheita, depois da qual me propunha moer o grão para fazer pão.

A minha dificuldade imediata era construir uma peneira ou tamis para passar a farinha e separá-la do joio, sem o que era impossível fazer o pão. Não me atrevia nem a pensar nisto, tão insuperável me parecia por me achar privado como estava das coisas mais necessárias, pois para peneirar a farinha precisava de um pano claro que servisse de peneira.





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