Permaneci submerso nesta ideia durante muitos meses, sem saber que resolução tornar. Ainda conservava alguns restos de tela, mas estavam feitos em tiras; tinha também à minha disposição lã de lama, mas não sabia de que meio valer-me para a fiar e tecer, além de que teria precisado de instrumentos adequados. Mesmo assim, à força de reflectir, encontrei um meio: lembrei-me de que entre os fardos da equipagem que tirara do buque se achavam alguns lenços de indiana ou musselina, e com alguns bocados deles fiz três pequenas peneiras, bastante jeitosas para o uso a que as destinava. Servi-me delas durante muitos anos, e depois direi como as substituí.
Vinha depois a padaria; já que tinha a farinha, devia pensar como fazer o pão. Ao princípio não possuía levedura, nem meio de arranjá-la; em relação ao forno também me encontrava bastante perplexo. Imaginei, por fim, um processo para o substituir: fiz algumas vasilhas de barro muito largas e pouco profundas, de cerca de dois pés de diâmetro e nove polegadas apenas de profundidade, e cozi-as do mesmo modo que às outras. Quando quis cozer o pão, comecei por acender uma grande fogueira em minha casa, em cujo chão tinha posto ladrilhos quadrados e fabricados a meu modo, ainda que sem ter em conta as regras da geometria.
Quando a lenha ficava completamente reduzida a carvão, e este bem aceso, estendia-o sobre a lareira, onde o deixava até ficar bem quente; então, depois de ter separado os carvões e tirado perfeitamente a cinza, colocava a pasta, que cobria com as vasilhas de barro, em redor da qual punha carvões e restolho para concentrar o calor. Desta maneira consegui cozer os meus pães tão bem como seria possível nos melhores fornos do mundo; cheguei a ser um excelente pasteleiro, pois fiz magníficas tortas de arroz; apesar disso, não cheguei a preparar pastéis, porque só poderia recheá-los com carne de ave ou de lama.