Mas o meu destino adverso arrastava-me com força implacável e, embora vezes sem conta a razão e o juízo me gritassem muito alto que era preciso tornar à morada paterna, não podia, mesmo assim, decidir-me a isso. Não sei que nome dar a isto, nem pretendo afirmar que seja um secreto desejo aquele que nos impele a ser o instrumento da nossa própria desgraça, mesmo quando esta se ache diante de nós e para ela nos dirijamos de olhos bem abertos. Mas, verdadeiramente, era necessário que estivesse predestinado a essa desgraça certa e inevitável para tomar um partido tão directamente contrário às minhas convicções e raciocínios, e a umas lições tão visíveis como as que tinha recebido na minha primeira tentativa.
O amigo que antes contribuíra para me dar ânimo, e que era filho do comandante, encontrava-se então muito mais desanimado do que eu. A primeira vez em que, depois, me falou estávamos em Yarmouth, e tal só ocorreu passados dois ou três dias, por nos acharmos hospedados em bairros diferentes. Apercebi-me de que as suas ideias haviam sofrido uma alteração notável e, movendo a cabeça com ar triste e melancólico, informou-se da minha saúde e disse ao pai quem eu era, e como havia empreendido aquela viagem sozinho, à maneira de ensaio para empresas mais importantes. O pai voltou-se então para mim numa entoação ao mesmo tempo grave e carinhosa:
- Jovem - disse-me -, não deve tornar a embarcar; tem de encarar o que se passou como um sinal seguro e visível de que não está destinado a seguir uma carreira marítima. Trate de entender bem que, se não voltar para casa, só encontrará em toda a parte onde for pesares e desgraças, até se cumprirem em si à letra os prognósticos do seu pai.
Mal lhe respondi, separando-nos logo de seguida. Nunca mais o tornei a ver, nem soube que caminho seguiu.