A ideia deste empreendimento e a certeza que tinha de o poder levar a cabo com mais recursos do que os índios, inspiraram-me uma alegria vivíssima; mas não estava a ter em conta certos inconvenientes que eu, mais do que eles, devia encontrar, como transportar sozinho a canoa até ao mar, assim que ficasse pronta, obstáculo muito maior para mim do que a falta de ferramentas para os selvagens. Na verdade, de que me serviria ter escolhido uma árvore conveniente no bosque, tê-la deitado abaixo com trabalho infinito, tê-la aplainado e ajeitado para lhe dar a forma de uma canoa, e tê-la serrado e queimado pela parte de dentro para a tornar oca, se era preciso, por fim, abandoná-la, por, não dispor de força suficiente para deitá-la à água?
É muito possível que, se tivesse feito a menor reflexão enquanto trabalhava na construção da piroga, me apercebesse imediatamente da distância que me separava da margem do mar; mas estava de tal modo absorto na ideia da viagem que nada me ocorreu. E, no entanto, ter-me-ia sido mais fácil conduzir a canoa quarenta e cinco milhas pelo mar fora do que fazê-la percorrer as quarenta e cinco braças de terra que a separavam dele.
Quando meti mãos a este projecto, agi do modo mais insensato que imaginar se possa. Encontrava-me encantado com uma ideia tão peregrina, sem saber se seria capaz de levá-la a cabo. Mas mesmo que tivesse pressentido a dificuldade de lançar à água a canoa, acabei com os meus pensamentos dizendo para comigo:
- Mãos à obra! Estou certo de que arranjarei maneira de lançá-la quando estiver pronta!
Este era um projecto muito disparatado, mas a minha obstinação acabou por prevalecer e pus-me a trabalhar. Cortei um cedro tal que julgo difícil que Salomão dispusesse de outro igual para a construção do templo de Jerusalém. A parte baixa do tronco tinha cinco pés e meio de diâmetro e o comprimento, até aos ramos, chegava a trinta e dois pés, achando-se o diâmetro reduzido a quatro pés e onze polegadas.
