Além desta plantação, possuía também outra, bastante considerável, em redor da casa de campo. Tinha um caramanchão tratado com muito cuidado, pois eu podava a paliçada do recinto, mantendo-a sempre à mesma altura; a escada estava constantemente posta no interior. Quanto às árvores, que tinham crescido altas e vigorosas, como as da paliçada, podava-as de maneira a poderem oferecer-me uma sombra agradável. No centro deste recinto achava-se a minha tenda, a qual se compunha de pano de vela, sustentada por estacas que nunca precisei de reparar ou de substituir. Debaixo da tenda pusera uma espécie de cama de repouso com as peles dos animais mortos e outros objectos macios: uma colcha de cama salva do naufrágio e um grosso capote serviam para me cobrir. Tal era a casa de campo para onde me retirava nas temporadas em que abandonava a residência principal.
Num dos lados desta ficavam as cercas do gado, isto é, das lamas; e como passara trabalhos inconcebíveis para fechar e proteger aqueles redis, tinha muito cuidado em conservar a estacada, a fim de que as lamas não lhes pudessem abrir brechas. E para isso tinha plantado em redor da estacada pequenos pés em grande número e tão espessos que a mão mal cabia entre eles; passado algum tempo, aqueles pés pegaram e cresceram tão vigorosamente com as primeiras chuvas que tornaram a paliçada ainda mais forte do que as melhores muralhas.
Todas estas obras provam bem que eu não era preguiçoso e que não me poupava trabalhos nem cuidados para arranjar uma vida cómoda. Estava certo de ter no meu rebanho lamas suficientes para toda a vida, mesmo que durasse mais de quarenta anos e, assim, grande reserva de carne, leite, manteiga e queijo; mas o único meio de conservar aqueles animais era ter o recinto em bom estado, o que consegui de tal modo que, quando os pés plantados cresciam de mais, tinha que arrancar muitos, plantando outros novos.
