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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 135

Estes temores desterraram-me do coração toda a confiança em Deus, fundada na experiência maravilhosa da Sua bondade para comigo. Como se quem até então me tinha alimentado por uma espécie de milagre não tivesse poder bastante para me conservar os bens que a Sua providência me dera! Nesta situação, deitei-me à cara não haver semeado tanto grão como o que necessitava para a nova estação, não tendo tido a previsão de que qualquer acidente me pudesse arrebatar o que ainda não colhera; encontrei esta censura tão justa que resolvi, a seguir, abastecer-me de antemão para dois ou três anos, a fim de não me expor a morrer de fome.

Depois pensei que Deus, tão poderoso como justo, tendo-lhe parecido bem castigar-me e afligir-me, desfrutava do poder de pôr termo às minhas desgraças, e que se não o fazia, o meu dever era submeter-me inteiramente à Sua vontade, e esperar sempre por Ele, aguardando tranquilamente os decretos e as disposições da Sua providência, dirigindo-me a Ele por intermédio da oração.

Estas reflexões ocuparam-me horas, dias, semanas e até meses. Não posso omitir uma particularidade que muito me admirou: uma manhã, encontrando-me ainda deitado e atormentado pelos meus pensamentos sobre o perigo dos selvagens, achava-me no desalento mais profundo, quando de repente me veio à memória aquela passagem da Escritura Sagrada: «Invoca-me nos dias de aflição, eu te livrarei e tu me glorificarás.»

No meio dessas reflexões e temores, veio-me um dia à ideia que as minhas inquietações eram quiméricas, e que as pegadas que vira podiam ser as marcas dos meus próprios pés quando desci da canoa. Este pensamento consolou-me um pouco, e comecei a convencer-me de que tudo aquilo não passara de uma ilusão minha. Não teria eu podido tomar aquele caminho quando saí da piroga, tal como depois voltei a encontrar-me nele? Era verdadeiramente impossível recordar-me dos sítios por onde passara. Se as minhas pegadas me tinham alarmado tanto, não me sucedia o mesmo que àqueles que querem contar histórias de aparições e espectros, e são os primeiros a assustar-se?

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pág. 135 (Capítulo 9)

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Capa do livro Robinson Crusoe
Páginas: 241
Página atual: 135

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 30
Capítulo 3 41
Capítulo 4 53
Capítulo 5 63
Capítulo 6 78
Capítulo 7 91
Capítulo 8 112
Capítulo 9 133
Capítulo 10 167
Capítulo 11 197
Capítulo 12 236