Robinson Crusoe - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 138 / 241

Levei muitos meses a terminar a trincheira, e só me julguei em segurança depois dela pronta.

Depois implantei fora da muralha, numa grande extensão de terreno, uma espécie de pequenas estacas de madeira parecida com a do salgueiro, as quais eram tão sólidas como rápidas a crescer. Creio, se não estou em erro, que fixei na terra mais de vinte mil deixando entre elas e o meu recinto intervalo bastante para descobrir o inimigo, a fim dele não se poder pôr ao abrigo das novas árvores e acercar-se da muralha exterior.

Assim, obtive em dois anos um souto espesso e, em cinco ou seis anos, a minha casa estava rodeada por uma selva tão vigorosa e unida que era impenetrável a ponto de ninguém poder imaginar que ocultasse algo parecido com uma habitação. Como não deixara qualquer entrada para o meu castelo, servia-me para entrar e sair de duas escadas: com a primeira subia até ao sítio da rocha em que ficava o ponto para firmar a segunda; quando as retirava a ambas, era impossível que algum homem pudesse chegar até mim sem correr o risco de se matar; e mesmo que conseguisse chegar, ainda depararia com a trincheira exterior.

Tomei, pois, para minha conservação, todas as medidas que a prudência humana podia sugerir; já se vai ver que estas precauções não foram inúteis, ainda que então apenas tivessem sido inspiradas por um vago temor.

Durante aquelas diversas operações, não olvidava as minhas outras tarefas; ocupava-me, sobretudo, com o pequeno rebanho de lamas, que começava a ser-me de grande utilidade na presente ocasião, ao permitir-me economizar não só as munições mas também a fadiga consequente à caça das lamas selvagens. E de modo algum quis descuidar as vantagens que me proporcionava a criação de novo gado.

Após uma demorada deliberação, encontrei dois meios de pô-lo em segurança: o primeiro era descobrir um lugar conveniente para fazer debaixo da terra uma caverna grande e ali o meter todas as noites; e o segundo, construir dois ou três pequenos cercados, afastados uns dos outros, e tão ocultos quanto possível, em cada um dos quais pudesse meter meia dúzia de lamas; a fim de que, se a maioria do rebanho sofresse algum desastre, pudesse recuperá-lo em pouco tempo e sem trabalho demasiado.





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