E embora este meio requeresse maior esforço, pensei que era o mais razoável.
Consequentemente, gastei alguns dias a percorrer todos os recantos da ilha, até encontrar um local tão retirado como poderia desejar. Era ele um pequeno pedaço de terreno húmido, no meio do bosque espesso no qual, como já disse, me perdi aquando da minha primeira excursão para leste. Existia naquele sítio um espaço livre de cerca de um hectare e meio, tão rodeado de bosques que era quase um cercado natural' assim foi-me preciso menos trabalho do que para os outros que antes preparara.
Em seguida meti mãos à obra e, em menos de um mês, o cercado ficou em condições de guardar em segurança o meu gado, que não era tão selvagem como poderia supor-se. Levei logo para lá, sem perda de tempo, duas lamas novas e dois machos. Depois disto pus-me a aperfeiçoar a cerca, até a deixar tão sólida como a primeira; mesmo assim, como fiz o trabalho com comodidade, gastei muito mais tempo.
Os vestígios de um homem foram unicamente a causa de toda aquela azáfama, e, embora não tivesse visto ninguém na ilha, vivi, mesmo assim, durante dois anos, numa ansiedade que me tornava a vida ainda mais penosa do que antes, como podem imaginar os que sabem o que e viver num contínuo temor. E devo confessar com mágoa, que a minha perturbação de espírito muito influía em desfavor dos meus sentimentos religiosos, porque o medo de cair em poder dos canibais me ocupava de tal maneira a Imaginação que raramente me encontrava em condições de me dirigir ao Criador com a calma e a resignação habituais.
Mas continuemos. Depois de ter deixado em segurança uma parte do meu pequeno armazém animado, meti-me a percorrer toda a ilha para procurar encontrar outra guarida adequada para fazer um depósito igual. Um dia, adiantando-me muito mais para a parte oriental da ilha, e olhando para o lado do mar, julguei distinguir uma embarcação a grande distância.
