Robinson Crusoe - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 143 / 241

Precisava de tonéis para guardar a cerveja (pois viu-se já que gastara, não só dias, mas semanas e meses, para tentar a sua construção, sem chegar a consegui-lo), de lúpulo para a conservar, de espuma para a fazer fermentar, e de caldeira para a ferver. Mau grado tudo isto, estava persuadido de que, sem os temores que os selvagens me causavam, me teria aventurado a empreendê-la, e talvez com êxito, porque raras vezes renunciava a uma ideia que se me instalasse na cabeça. Mas nessa altura a minha imaginação dirigira-se para outro caminho muito diferente: noite e dia passava-os à procura da maneira de destruir alguns daqueles monstros no meio das suas sanguinárias e cruéis diversões e, se fosse possível, salvar as vítimas que levassem para a ilha com o fim de as degolarem. Seria preciso um tomo maior do que o presente se tivesse de fazer o relato de todos os projectos que me rondavam a cabeça para destruir aqueles selvagens ou, pelo menos, assustá-los o bastante para os impedir de voltar. Mas estes projectos não iam por diante por ter de os executar com os meus próprios recursos. Que podia fazer um homem sozinho no meio de vinte ou trinta selvagens armados de dardos, de arcos e flechas, cujos tiros seriam tão certeiros como os da minha espingarda?

Pensava, algumas vezes, em fazer uma escavação no sítio em que eles costumavam acender as fogueiras, e colocar cinco ou seis libras de pólvora que se inflamassem quando aproximassem o lume, fazendo saltar em mil pedaços tudo quanto se achasse à volta. Mas, em primeiro lugar, não queria desperdiçar pólvora porque apenas me sobrava um barril e não estava muito certo de que a explosão ocorresse a tempo; podia muito bem apenas chamuscar-lhes as orelhas e assustá-los, o que não chegaria para os decidir a abandonar o local. Pus, assim, de parte aquele projecto, e decidi emboscar-me num sítio conveniente, com as minhas três escopetas com carga dupla; assim, quando estivessem no seu sangrento festim, faria fogo, no momento de estar certo de matar ou ferir dois ou três, pelo menos, com cada tiro; depois, caindo sobre eles com as minhas três pistolas e a faca, não duvidava de que exterminaria todos, mesmo que fossem mais de vinte.





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