Robinson Crusoe - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 144 / 241

Afaguei este projecto durante algumas semanas, e mantinha-me tão preocupado que muito cheguei a sonhar com ele, vendo-me no sonho já pronto a disparar. A imaginação arrastou-me de tal maneira que gastei uma porção de dias a procurar um sítio conveniente para me emboscar e espiá-los; voltei com frequência ao lugar da fogueira, com o qual comecei a familiarizar-me; a minha imaginação estava repleta de ideias de vingança que me impeliam a exterminar vinte ou trinta daqueles miseráveis; o horror que o sítio me inspirava e os vestígios da sua crueldade sustentavam o meu furor.

Por último, dei com um lugar indicado na vertente da colina, onde poderia aguardar calmamente a chegada das suas pirogas e daí, antes de terem desembarcado, esgueirar-me à socapa para um bosquezinho de árvores; entre as quais descobrira um tronco bastante largo para: me esconder completamente; daquele sítio podia espiar todas as suas acções e fazer pontaria à vontade assim que os visse reunidos, sendo quase impossível não ferir três ou quatro com o primeiro tiro.

Detive-me, portanto, a escolher bem o local e preparei para a execução dos meus desígnios dois mosquetes e a escopeta de caça. Carreguei aqueles dois com um punhado de metralha e quatro ou cinco balas de pistola; quanto à escopeta, meti-lhe um punhado de balins; finalmente, carreguei cada uma das minhas pistolas com duas balas e, bem fornecido de munições para uma segunda e terceira descargas, dispus-me a empreender a minha expedição.

Preparado assim o plano, e posto já em marcha na minha imaginação, dirigia-me todas as manhãs para o alto da colina, situada a três milhas do castelo, para procurar descobrir algumas canoas que se dirigissem para a ilha. Abandonei, contudo, tão rude tarefa após dois ou três meses de serviço diário, sem fazer a mínima descoberta e sem avistar nada, não só em terra ou do lado da costa, mas também em todo o oceano que a minha vista ou o óculo podiam alcançar.





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