Não deve parecer estranho ouvir-me confessar que as inquietações e os perigos no meio dos quais vivia me tinham feito perder o espírito inventivo e o desejo de arranjar melhores comodidades para o futuro. Não me atrevia a espetar um prego nem a cortar um bocado de lenha com medo de fazer barulho e, pela mesma razão, evitei imenso disparar a escopeta; mas quando me punha mais inquieto era quando tinha de acender o lume, com receio de que o fumo, visível durante o dia a uma grande distância, me atraiçoasse. Por tal motivo transferi o fabrico dos meus utensílios que precisavam de fogo, como vasilhas e cachimbos, para a casa do bosque, perto da qual encontrei com satisfação indizível, uma caverna natural, de grande extensão, onde estava certo de que um selvagem, mesmo que desse com a abertura, não ousaria penetrar; para se atrever a isso era necessário ter como eu uma completa segurança na retirada.
A entrada daquele subterrâneo ficava na base de um penhasco enorme; apenas a descobri por pura casualidade (melhor deveria dizer que por favor da Providência), numa altura em que fui cortar alguns ramos grossos de árvore para fazer carvão.
Antes de prosseguir, cabe-me explicar por que fazia carvão.