Robinson Crusoe - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 147 / 241

E não tenho qualquer dúvida de que, depois da averiguação da sua chegada me ter tornado tão circunspecto, voltaram muitas vezes como dantes. Não podia pensar, sem sentir arrepios, na situação terrível em que me teria visto se me encontrasse com os selvagens quando cheguei à ilha ou pouco tempo depois; nessa altura estava desarmado, para minha defesa apenas dispunha de uma única escopeta carregada com chumbos; corria toda a ilha em busca de alguma caça. Qual teria sido o meu terror se, em vez de uma só marca de um pé humano, tivesse visto quinze ou vinte selvagens, que me teriam perseguido e alcançado bem depressa graças à velocidade extraordinária da sua corrida?

Não deve parecer estranho ouvir-me confessar que as inquietações e os perigos no meio dos quais vivia me tinham feito perder o espírito inventivo e o desejo de arranjar melhores comodidades para o futuro. Não me atrevia a espetar um prego nem a cortar um bocado de lenha com medo de fazer barulho e, pela mesma razão, evitei imenso disparar a escopeta; mas quando me punha mais inquieto era quando tinha de acender o lume, com receio de que o fumo, visível durante o dia a uma grande distância, me atraiçoasse. Por tal motivo transferi o fabrico dos meus utensílios que precisavam de fogo, como vasilhas e cachimbos, para a casa do bosque, perto da qual encontrei com satisfação indizível, uma caverna natural, de grande extensão, onde estava certo de que um selvagem, mesmo que desse com a abertura, não ousaria penetrar; para se atrever a isso era necessário ter como eu uma completa segurança na retirada.

A entrada daquele subterrâneo ficava na base de um penhasco enorme; apenas a descobri por pura casualidade (melhor deveria dizer que por favor da Providência), numa altura em que fui cortar alguns ramos grossos de árvore para fazer carvão.

Antes de prosseguir, cabe-me explicar por que fazia carvão.





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