Robinson Crusoe - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 15 / 241

Não fui conduzido com os demais para o local em que o imperador tem a sua residência, mas o comandante pirata ficou comigo, como parte da sua presa, e fez-me seu escravo, pois eu era jovem e ágil e, por conseguinte, adequado para o seu serviço particular.

Como o meu novo patrão ou amo me tinha conduzido para a sua casa, conservava a esperança de que me levasse consigo nas suas excursões pelo mar e de que, mais tarde ou mais cedo, seria apresado por algum buque espanhol ou português. Depressa perdi esta esperança porque, quando embarcava, deixava-me em terra a fim de cuidar do jardim e fazer o serviço correspondente aos escravos da casa; no regresso mandava-me deitar no seu camarote para guardar a embarcação.

Quando ia ficar a bordo só pensava nos meios de poder fugir; mas não me ocorria nenhum que pudesse ter êxito favorável. Por outro lado, não tinha ninguém a quem pudesse comunicar os meus planos e que quisesse embarcar comigo; de modo que passei dois anos a imaginar uma porção de projectos de evasão, dos quais nenhum me ofereceu segurança suficiente para pô-lo em prática.

Ao fim de dois anos apresentou-se-me uma ocasião ' bastante singular, que me reforçou a ideia, concebida há muito tempo atrás, de recuperar a liberdade. Como o meu amo ficava mais tempo em terra do que era costume, sem utilizar o buque (sem dúvida por falta de dinheiro, segundo cheguei a compreender), saía duas ou três vezes por semana, sobretudo quando o tempo estava formoso, para ir pescar na enseada com a sua lancha. Nessas alturas levava-me com ele, juntamente com um jovem chamado Maresco, para remarmos. Ambos lhe dávamos muita satisfação naquelas partidas, eu principalmente porque era muito destro a pescar. Enfim, às vezes ficava tão contente que me mandava, com um mouro seu parente e' o jovem Maresco, buscar-lhe um prato de peixe.

Aconteceu certa vez que, tendo ido pescar numa manhã de grande calmaria, levantou-se de súbito um nevoeiro tão espesso que nos fez perder de vista a terra, embora não nos tivéssemos afastado mais de meia légua da costa.





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