Robinson Crusoe - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 155 / 241

Mantive a fogueira durante toda a noite, e quando se fez dia e o céu limpou, descobri algo no mar a leste da ilha: era uma vela ou coisa parecida, que não pude distinguir bem apesar do óculo de alcance, pois a distância era muito grande e o tempo ainda não estava muito bom, pelo menos no mar.

Todo o dia mantive o olhar constantemente fixo naquela direcção e, notando que o objecto não mudava de sítio, pensei que seria algum buque ancorado. Desejoso de satisfazer a minha curiosidade, como é fácil de pensar, peguei na escopeta e dirigi-me para a parte meridional da ilha, junto às rochas onde as correntes me haviam levado anos atrás; trepei ao cume mais alto e, tendo o tempo serenado, vi perfeitamente, com grande aflição, o casco de um buque que fora arremessado durante a noite para cima dos baixos ocultos que eu notara quando da minha excursão na canoa e que produziam aquele remoinho ou contracorrente que me salvou do maior perigo que corri em vida.

Assim, o que salva um é a perda de outro; porque é muito fácil de acreditar que a tripulação, não tendo nenhum conhecimento daqueles penhascos ocultos inteiramente debaixo de água, fosse para eles arrastada durante a noite pelo forte vento de leste e de este-noroeste. Se tivessem avistado a ilha, o que não posso supor, com certeza teriam tentado saltar em terra com a chalupa. Os tiros de canhão que haviam disparado, provavelmente quando viram a minha fogueira, deram-me muito que pensar. Tão depressa acreditava que, tendo divisado a luz, se teriam passado para a chalupa com o fim de alcançar terra, mas que estando o mar muito encapelado acabaram atirados para longe dela, como imaginava que podiam ter perdido a chalupa, o que sucede frequentemente, sobretudo quando as ondas entram na embarcação e os marinheiros se vêem eles próprios obrigados a fazê-la em pedaços ou a atirá-la ao mar. Outras vezes pensava que os buques que iam a par, advertidos pelos sinais da embarcação, teriam salvo a tripulação.





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