No dia seguinte pus-me a calcular onde poderia colocar o meu criado de um modo conveniente para ele e cómodo para mim. Construí uma pequena choça entre as duas fortificações e, tendo feito nesse lugar uma saída que dava para a gruta, cortei-lhe o passo estabelecendo ao lado da minha entrada um dintel de madeira com uma porta de tábuas que se abria pela parte de dentro; fechava esta porta durante a noite, e também retirava as duas escadas, de modo que Sexta-Feira não pudesse vir até à fortificação interior sem fazer bastante ruído para me despertar, pois a primeira muralha tinha então um tecto espesso, de barras largas, que cobriam a minha tenda, e se apoiavam no penhasco, e, por cima das barras entrelaçadas de troncos delgados, à maneira de latadas, pusera uma espessa camada de palha de arroz, tão sólida como se fosse de canas; aliás, no buraco ou passagem que fizera para sair por intermédio da escada, tinha colocado uma armadilha, que, se fosse forçada da parte de fora, cairia com grande estrépito, em vez de se abrir. Quanto às armas, punha-as todas perto de mim durante a noite.
Não precisava, porém, de tais precauções, porque duvido de que alguém haja tido alguma vez criado mais fiel do que Sexta-Feira; sem teimosia, sem más intenções, era-me inteiramente dedicado; o seu carinho para comigo era o de um filho para com o pai, e atrevo-me a dizer que em qualquer ocasião teria sacrificado a sua vida para salvar a minha. Deu-me tantas provas disso que me foi impossível duvidar dele, e me convenci da inutilidade das precauções tomadas em relação à sua pessoa.