Robinson Crusoe - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 177 / 241

Transportei então a pequena lama para casa, onde eu mesmo a esfolei e esquartejei; pus alguns bocados a ferver numa panela destinada a esse uso, o obtive deste modo uma refeição excelente.

Assim que a provei, dei um pedaço ao meu criado, que pareceu muito contente e apreciou bastante aquela espécie de alimento. Mas o que lhe pareceu muito estranho foi ver-me comer a carne com sal. Para me mostrar que o sal não era bom, pôs um pouco na boca; pareceu sentir náuseas, deitou tudo fora, e foi enxaguar-se com um pouco de água fresca. Eu, por meu turno, comi um pedaço insosso e executei os mesmos gestos que ele, mas não pude levá-lo a fazer uso do sal. Nunca o quis pôr nos alimentos, a não ser passado muito tempo, e mesmo assim em quantidade muito pequena.

Depois de lhe ter dado a comer carne cozida e pão, resolvi no dia seguinte obsequiá-lo com um quarto de lama assada. Pendurei uma numa corda, como vira fazer na Inglaterra; depois espetei duas estacas em cada lado da fogueira e, colocando nas suas extremidades um pau atravessado, atei neste a corda, e dei continuamente voltas à carne. Esta invenção despertou a admiração de Sexta-Feira mas, quando provou o assado, empregou tantos sinais para me demonstrar que tinha gostado que não pude deixar de o compreender. Finalmente, fez-me entender o melhor que pôde que não tornaria a comer mais carne humana, o que me deu um grande contentamento.

No dia seguinte tive-o ocupado a debulhar e a peneirar o grão, a meu modo, e chegou a fazê-lo tão bem como eu, sobretudo quando compreendeu o objectivo daquilo, que era para fazer pão, pois lhe mostrei como o amassava, como o cozia no forno e, em pouco tempo, chegou a executar todas as minhas tarefas tão bem como eu.

Comecei então a considerar que éramos dois a comer, e, por conseguinte, que devia arranjar mais terreno e semear mais grão do que antes.





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