Assim, escolhi um campo mais extenso e cerquei-o, como fizera com todas as minhas demais terras, no que Sexta-Feira me auxiliou, trabalhando não só de boa vontade e com ardor, mas também com muita alegria, pois tinha-lhe dito que era para semear trigo e fazer mais pão, porque estando ele comigo era necessário que chegasse para os dois. Pareceu muito sensibilizado com os meus cuidados, e revelou-me que sabia que por sua causa eu tinha mais trabalho do que antes, e que por isso trabalharia ainda mais para mim, se lhe quisesse indicar o que devia fazer.
Aquele foi o ano mais agradável que passei na ilha.
Sexta-Feira começava a falar bastante bem; sabia o nome de quase todas as coisas que lhe pedia e de todos os sítios onde o mandava. Como falava muito, tornei a usar o meu idioma, que completamente inútil me fora durante tanto tempo. Sexta-Feira não me agradava só pela conversa, mas também pelo carácter. A sua pureza simples e cândida revelava-se a cada instante. E creio que, pela sua parte, gostava mais de mim do que de tudo o que antes fizera.
Um dia senti curiosidade em saber se tinha algum desejo de voltar à sua terra, e como Sexta-Feira conhecia muito maio inglês para responder à maior parte das perguntas, interroguei-o sobre se a sua nação ficava sempre vitoriosa nos combates. A isto respondeu sorrindo:
- Sim, sim! Nós sempre combater melhor! Iniciámos então o seguinte diálogo:
- Se a tua nação peleja sempre melhor do que as outras, por que foste feito prisioneiro?
- A minha nação vence melhor que todas.
- Como é que vence? Se a tua nação venceu, como foste aprisionado?
- Eles ser muito mais onde eu estava. Eles apanhar um, dois, três e mim. A minha nação vencê-los noutro lugar, onde eu não estar. Ali minha nação apanhar um, dois, mil.
- Por que é que então a tua gente não os vai resgatar aos inimigos?
- Eles levar um, dois, três e mim na canoa. Minha nação não ter então canoas.
- Ora bem, Sexta-Feira, que faz a tua nação aos homens que apanha? - Também os levam para comer como eles fazem?
- Sim, minha nação comer homens também, comer todos.
- Para onde os levam?