Robinson Crusoe - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 18 / 241

Provido assim de tudo quanto era necessário, fizemo-nos à vela e saímos do porto para ir pescar. Os que estavam de observação no castelo à entrada do porto, como sabiam quem nós éramos, deixaram-nos passar, e quando já tínhamos percorrido uma milha no alto mar amainámos a vela e preparámo-nos para a pesca. O vento, que soprava do NNE, contrariava os meus projectos porque, se tivesse vindo do lado sul, teria ficado certo de alcançar as costas de Espanha e de chegar, pelo menos, à baía de Cádis. Mas, viesse o vento de onde viesse, tinha resolvido abandonar aquela terra horrível e encomendar o resto ao destino.

Depois de pescar durante algum tempo sem qualquer fruto, porque quando sentia algum peixe picar o meu anzol não o puxava, receoso de que o mouro o visse, disse a este último:

- Aqui não conseguimos nada de jeito, e o nosso amo vai julgar que o servimos mal; é preciso afastarmo-nos um pouco mais.

Não suspeitando o mouro nada de mau, e achando-se na proa da chalupa, largou a vela e, como eu tinha o leme, conduzi a embarcação até umas léguas mais além, fingindo querer pescar; mas de súbito, entregando o leme ao rapaz e fingindo baixar-me para apanhar qualquer coisa atrás dele, agarrei-lhe de surpresa as pernas e atirei-o ao mar. Pouco demorou a aparecer à tona de água, porque nadava muito bem; então chamou-me e suplicou-me que o recebesse a bordo, dizendo-me que me seguiria até ao fim do mundo se eu quisesse. Nadava com tanto vigor, e o vento era tão fraco, que ia alcançar a chalupa dentro em breve. Em vista disso, corri ao camarote, apanhei uma das escopetas e, apontando-lha, disse-lhe que não lhe tinha causado dano, e que não lhe faria nenhum mal se se mantivesse quieto.

- Sabe nadar - disse-lhe -, o bastante para chegar a terra, e o mar está calmo; aproveite esta calma para se dirigir para a costa, e desse modo nada terá a recear; mas se se aproximar mais disparo-lhe um tiro em cima, porque estou decidido a recuperar a liberdade.





Os capítulos deste livro