Robinson Crusoe - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 19 / 241

Perante estas palavras voltou-se e pôs-se a nadar para a costa; era um excelente nadador e chegaria, sem dúvida, a terra sem qualquer contratempo.

Teria preferido ficar com o mouro e ter atirado à água o rapaz, mas não podia arriscar-me a confiar naquele. Assim que se afastou virei-me para o rapaz, que se chamava Xuri, e disse-lhe:

- Xuri, se quiseres ser-me fiel farei de ti um grande homem; mas se não quiseres fazer um golpe na cara para me seres fiel (quer dizer, jurar por Maomé e pelas barbas do seu pai), ver-me-ei obrigado a também te atirar ao mar.

O rapaz mirou-me a sorrir, e falou-me tão inocentemente que não pude desconfiar mais dele; a seguir jurou-me fidelidade, e disse-me que me acompanharia a toda a parte.

Estive de proa ao mar até ter perdido de vista o mouro que nadava, preferindo ir contra o vento para lhe fazer crer que me dirigia para o estreito. De facto, não é possível imaginar que um homem com algum juízo pudesse empreender outra rota, nem que tomasse rumo ao sul (como o verifiquei) para regiões de bárbaros ou de povoações de negros que podiam cercar-nos com as suas canoas, apoderar-se de nós e degolar-nos ou, por outro lado, não poder saltar em terra sem nos expormos a ser devorados por animais ferozes ou por homens selvagens, mais cruéis do que as próprias feras.

Pela tarde, na altura em que o sol começou a declinar, mudei de rumo: apontei a proa a sudeste, inclinando-me um pouco para leste a fim de não me separar demasiadamente da costa. O vento era favorável, e o mar conservava-se tranquilo e sereno, de forma que avançámos tanto que às três da tarde do dia seguinte pareceu-me que nos encontrávamos a cinquenta milhas a sul de Salem, no outro lado dos estados do imperador de Marrocos ou de qualquer outro soberano, porque não avistávamos absolutamente ninguém.

Apesar disso, receava tanto cair em poder dos mouros que não quis parar, nem descer a terra, nem ancorar em parte alguma.





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