- Mas nesse caso vão-te matar. Pôs-se sério e, por fim, respondeu:
- Não matar-me. Querer melhor aprender.
Pretendia ele dizer que se mostrariam muito desejosos de se instruírem. Acrescentou que aprenderam muitas coisas com os homens das barbas que tinham ido com a chalupa. Perguntei-lhe se sentia vontade de voltar para junto dos seus. Sorriu perante estas palavras, e replicou-me que não poderia nadar até lá. Prometi-lhe então fazer-lhe uma canoa, mas disse-me que só partiria se eu concordasse em ir com ele.
- Eu partir contigo! - exclamei. - A tua gente havia de me comer se eu lá aparecesse.
- Não, não! Eu fazer eles não comer. Eu fazer eles amar senhor muito.
Isto é, propunha-se contar-lhes que eu tinha tirado a vida aos seus inimigos e salvo a sua, o que só por si bastava para que eles me amassem. Depois, pôs-se a descrever a seu modo a maneira como eles haviam tratado os dezassete homens brancos ou barbudos, como eles lhes chamavam, que na sua desventura abordaram a sua terra.
Devo confessar que a partir daquele momento concebi a ideia de me aventurar a fazer aquela viagem, com o desejo de me reunir aos homens barbudos que, em meu entender, deviam ser espanhóis ou portugueses. Não duvidava de que, uma vez chegado ao continente, e com numerosa companhia, não fosse possível encontrar algum meio de tornar à minha pátria, o que não podia esperar numa ilha a quarenta milhas da costa, e onde estava só e sem socorro. Assim, alguns dias mais tarde, retomei a conversa com Sexta-Feira, dizendo-lhe que queria dar-lhe um barco para regressar à sua terra. Levei-o, por isso, para o outro lado da ilha, onde se achava a canoa; depois de a ter tirado da água, onde tinha sempre o cuidado de a manter metida, e de a colocar na areia, examinei-a, encontrando-a bem; lançámo-la à água, e ambos entrámos nela.
Vi que Sexta-Feira era muito hábil na manobra e que fazia andar o barco quase tão rapidamente como eu o poderia ter feito.
- Ora bem, Sexta-Feira - disse-lhe -, vamos agora à tua terra?
