Robinson Crusoe - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 186 / 241

Pronunciou estas últimas palavras com tanta emoção que lhe vi os olhos rasos de lágrimas. Reconheci a sinceridade da sua adesão a mim e a solidez do seu carácter; prometi-lhe depois muitas vezes que jamais se apartaria do meu lado enquanto quisesse permanecer comigo.

Assegurando-me de que a sua adesão era tão sólida que nada podia induzi-lo a abandonar-me, compreendi pelas suas falas que o desejo de regressar à pátria se fundava no seu carinho pelos seus compatriotas e na 'esperança do bem que eu lhes podia fazer, coisa que, dadas as minhas poucas luzes, não tinha intenção de empreender. Já não me preocupava com outra coisa que não fosse fazer uma tentativa de liberdade, tal como antes, fundamentado no que tinha ouvido dizer a Sexta-Feira: isto é, em encontrar na sua nação os dezassete homens das barbas. Pusemo-nos portanto, a seguir, à procura de uma árvore grande para construir uma piroga ou canoa conveniente para a nossa empresa. Havia na ilha árvores suficientes para construir uma pequena frota, não só de pirogas, mas também de buques de grande porte. Mas o que eu principalmente procurava era uma árvore bastante perto do mar para poder lançá-la à água assim que ficasse pronta, e evitar o inconveniente que me sucedera com a primeira.

Por fim, Sexta-Feira indicou-me uma, e compreendi que ele conhecia melhor do que eu a madeira mais indicada para os nossos propósitos. Ignoro como se chama a dita madeira; direi unicamente que era muito parecida com aquela a que chamamos da Nicarágua ou, pelo menos, tinha a mesma cor e o mesmo odor. Sexta-Feira preparava-se para queimar o interior do tronco para fazer a canoa, mas ensinei-lhe o modo de esvaziá-la com as ferramentas, das quais se serviu daí em diante com muita destreza. Após um mês de trabalho penoso, acabámos a piroga, que era muito elegante, sobretudo quando depois, com os nossos machados, em cujo manejo também o instruí, demos ao interior a forma de uma chalupa. Levámos ainda quinze dias a conduzi-la para o mar e, quando a lançámos, reconhecemos que podia conter comodamente vinte homens.





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