Robinson Crusoe - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 20 / 241

Prossegui, pois, o meu caminho durante os cinco dias completos que durou o vento favorável, ao cabo dos quais mudou e se tornou do sul; reflecti então que, se me seguiam, não poderiam dar-me caça e, por isso, aventurei acercar-me da praia, e lancei, pois, a âncora na desembocadura de um pequeno rio, cujo nome, situação e latitude, país ou povoado ignorava. Não vi nem desejava ver homem algum; só precisava era de água fresca.

Ao cair da tarde tratei de ir a terra a nado para reconhecer a região logo que escurecesse. Mas quando a noite chegou ouvimos um ruído tão espantoso, causado pelos uivos e rugidos de animais ferozes, cuja espécie desconhecíamos, que o pobre rapaz julgou morrer de medo, e suplicou-me vivamente que não desembarcasse antes do nascer do dia.

- Bem vejo que agora não posso desembarcar; mas chegado o dia também poderemos ver homens, que serão tão temíveis para nós como esses leões.

- Então - replicou, rindo-se -, pregamos-lhes um tiro.

Tudo isto era-me dito por Xuri num inglês mascavado, o qual aprendera com os ingleses que tinham sido escravos juntamente com ele. Agradou-me a sua coragem e, para mais a fortificar, dei-lhe um pequeno copo de licor que tirei do armário do meu amo. No fim de contas a ideia de Xuri não era má e, portanto, dispus-me u segui-la. Lançámos a nossa pequena âncora e permanecemos quietos toda a noite. Mas não estávamos tranquilos, pois durante as duas ou três primeiras horas pudemos avistar uns animais de um tamanho monstruoso e de diversas espécies, aos quais não sabíamos que nome aplicar, que vinham à praia e corriam para a água, onde se rebolavam, dando rugidos tão horrorosos que jamais ouvi outros que com eles se parecessem.

Xuri estava extremamente assustado e eu, a falar verdade, não me sentia muito tranquilo. Mas ainda mais nos assustámos os dois quando vimos que um desses enormes animais vinha a nadar na direcção do nosso barco. Não podíamos vê-lo, mas conhecemos pelo seu rugido que era uma fera monstruosamente grande e terrível. Xuri dizia que era um leão e, efectivamente, podia muito bem sê-lo. O pobre rapaz suplicava-me que levantássemos a âncora e que fugíssemos à força de remos.





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