Robinson Crusoe - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 216 / 241

Pouco depois, três marinheiros errantes, que por sorte sua se tinham separado dos demais, acudiram ao ruído dos tiros, e vendo o comandante, que de prisioneiro voltara a ser patrão, submeteram-se e deixaram-se amarrar como os outros; de modo que a nossa vitória foi completa.

Cabia-nos ainda, ao comandante e a mim, contar-nos mutuamente as nossas aventuras. Comecei pelas minhas e ouviu-as com a maior atenção e a mais extraordinária admiração, sobretudo pela maneira maravilhosa com que soubera arranjar víveres e munições. E como, efectivamente, a minha história era uma série de milagres, causei-lhe uma profunda impressão; mas quando, recordando a sua situação, viu que eu me tinha conservado naquele lugar quase expressamente para lhe salvar a vida, um pranto copioso inundou-lhe o rosto, e não pôde pronunciar uma só palavra.

Concluída a minha narrativa, levei-o a ele e aos seus dois companheiros para o castelo, onde os fiz entrar pela passagem habitual, isto é, por cima da paliçada. Ofereci-lhes a seguir todos os refrigérios que possuía, e mostrei-lhes todas as invenções que fizera durante a minha permanência na ilha.

Tudo quanto lhes mostrava e tudo quanto lhes dizia parecia-lhes muito surpreendente. Mas o comandante admirou, sobremaneira, a minha fortificação e a forma como soubera ocultar o meu retiro graças a uma selva. Como as árvores cresciam naquele clima muito mais depressa do que na Inglaterra, o bosquezinho plantado vinte anos atrás conseguira tornar-se num bosque tão espesso que não podia penetrar-se nele por parte nenhuma, a não ser pelo caminho estreito e tortuoso que eu fizera. Disse-lhe que aquilo era o meu castelo e a minha residência, mas que também possuía, como a maior parte dos príncipes, uma casa de recreio no campo, para onde podia retirar-me em certas ocasiões, e que lha mostraria noutro dia, mas que por agora era preciso tratar de recuperar o buque. Concordou com isto, embora me confessasse que não sabia, em absoluto, de que meios se valer.