Depois de ter reconhecido o sinal, fui deitar-me; e como aquele dia fora muito fatigante para mim, adormeci profundamente até despertar sobressaltado com o barulho de outro tiro de canhão. Ao levantar-me ouvi alguém chamar-me:
- Governador! Governador!
Reconheci logo a voz do comandante. Apressei-me a trepar ao cimo do penhasco, onde o encontrei. Lançou-se nos meus braços e, apontando o buque, disse-me: - Meu amigo e meu libertador, ali tem o seu buque, porque é propriedade sua, assim como nós e tudo o que dele depende.
Dirigi o olhar para o buque e avistei-o fundeado a pouco mais de meia milha da costa, isso porque, mal o recuperaram, o aparelharam e, estando um tempo bonançoso, vieram ancorar à entrada da minha pequena baía. Favorecido pela maré, o comandante tinha vindo numa chalupa, até perto do local onde eu descarregara as jangadas, desembarcando, por assim dizer, à minha porta.
Ao princípio, estive a ponto de desmaiar com a surpresa, pois vi a minha liberdade assegurada, os meios fáceis, e um buque majestoso que me aguardava, disposto a conduzir-me onde quisesse. Nos primeiros momentos foi-me impossível proferir uma só palavra que fosse e, quando o comandante me estreitou nos seus braços, se não me tivesse apoiado a ele, teria certamente caído ao chão.
Compreendeu o meu estado de ânimo e tirando imediatamente do bolso uma garrafa, fez-me tomar algumas gotas de um excelente cordial que trouxera com essa intenção. Depois de ter bebido, sentei-me no solo para serenar e, apesar disso, permaneci imenso tempo sem recuperar o uso da palavra. Não obstante, o infeliz estava tão emocionado como eu, apenas não experimentava a emoção da surpresa. Para me acalmar, falava-me com ternura de uma porção de coisas, mas havia no meu íntimo um excesso tal de alegria, que as minhas ideias estavam todas trocadas; finalmente aliviei-me derramando abundantes lágrimas, e a fala voltou-me a pouco e pouco.