Robinson Crusoe - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 47 / 241

Efectivamente, oferecendo a ribeira uma vertente bastante rápida, não podia abordar num local em que a jangada, quando chegasse a tocar-lhe, se encontraria tão alta de um lado e tão baixa do outro que seria muito possível perder todo o carregamento. O mais que podia fazer era aguardar que a maré subisse de todo e servir-me do remo à maneira de âncora para deter a jangada num terreno plano e unido, onde a água não pudesse chegar. E assim o fiz. Quando vi que já havia água bastante, pois o remo calava a cerca de um pé, arrastei-a para a praia e, apoiando-a em terra, sujeitei em cada uma das suas extremidades os meus dois remos partidos. Naquela situação aguardei até ao momento em que a maré baixou de todo, e deixou o carregamento da jangada seguro na ribeira. A primeira coisa que fiz foi reconhecer a terra e procurar um sítio próprio para me alojar e pôr as minhas coisas ao abrigo de qualquer acidente. Ignorava ainda se a terra para onde o naufrágio me tinha lançado era um continente ou uma ilha; se era habitada ou desabitada; se tinha algo a recear das feras ou não. A pouco mais de uma milha do local onde havia desembarcado elevava-se uma colina alta e escarpada que parecia dominar as demais, que se dirigiam para o norte. Peguei numa escopeta e numa das pistolas com um frasco de pólvora, e, armado desta maneira, comecei a trepar até ao cimo do monte. Cheguei ao cume fatigado e sem alento, e vi naquele instante quão deplorável era a minha situação: encontrava-me numa ilha no meio do oceano, só descobrindo rochas muito ao longe, de um lado, e, do outro, duas ilhas mais pequenas do que a minha situadas a umas três léguas para oeste.

Apercebi-me de que a ilha estava inculta e, segundo todas as aparências, desabitada, ou povoada, no máximo, por animais selvagens, dos quais, no entanto, não avistei nenhum; mas vi uma porção de pássaros de uma espécie para mim desconhecida, e até ignorava se poderia tirar partido deles quando tivesse caçado algum. Ao virar-me, disparei sobre um muito grande, pousado no mais alto de uma árvore no declive de um grande bosque, e matei-o.





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