Isto recorda-me que, independentemente da tinta, faltava ainda no meu pequeno armazém uma porção de coisas: contavam-se entre essas coisas uma enxada, um enxadão e uma pá para remover a terra; também agulhas, alfinetes e fio; quanto ao pano, depressa me habituei a prescindir dele.
Esta falta de utensílios atrasava todos os meus trabalhos e, assim, levei um ano a terminar completamente a pequena paliçada ou recinto. As estacas que a formavam eram tão pesadas que a sua colocação me custou muitíssimos esforços. Precisava de trabalhar com vigor para as cortar no bosque, para as polir e, sobretudo, para as transportar até casa; uma única estaca custava-me por vezes dois dias para a arredondar e levá-la, e outro dia para a espetar na terra. Servi-me, para esta última operação, ao princípio de um madeiro enorme; depois achei que seria mais cómodo usar uma das barras de ferro que possuía; mas apesar deste recurso, plantar as estacas era uma tarefa pesada e enfadonha.
Mesmo assim, a duração do trabalho, fosse ele qual fosse, não devia desanimar-me, pois sobejava-me tempo que não saberia como empregar se a obra tivesse terminado depressa. Aliás, todos os dias durante algumas horas, percorria a ilha para encontrar alimentos e para me distrair das minhas tarefas.
Comecei, a partir de então, a examinar muito a sério a minha situação e os meios a que me via reduzido. Fiz um balanço do estado dos meus negócios, não para os deixar aos herdeiros, que não deviam ser muitos, mas para afastar da imaginação as ideias dolorosas que vinham assaltá-la continuadamente.