Robinson Crusoe - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 69 / 241

1 de Janeiro. - Continuava a fazer um calor excessivo. Saí pela manhã e à tardinha com a escopeta, descansando o resto do dia. À tardinha avancei até aos vales centrais da ilha, onde avistei uma quantidade de cabras, mas muito selvagens, sendo, portanto, muito difícil aproximar-me delas. Tratei de voltar com o cão, a fim de que este as afugentasse para o lado onde eu estava.

No dia seguinte, com efeito, tive a prova. Enganei-me nas minhas esperanças: em vez de fugirem à frente do cão, as cabras enfrentaram-no; ele compreendeu o perigo e não quis acercar-se mais.

3 de Janeiro. - Iniciei as minhas trincheiras, ou melhor, as minhas muralhas já que, com medo de ser atacado, resolvi construí-las muito espessas e sólidas.

Nota. - Havendo descrito já esta fortificação, não repetirei o que a seu respeito disse no diário; apenas acrescentarei que precisei desde 3 de Janeiro até 14 de Abril para aperfeiçoar aquela obra, que tinha umas vinte e quatro varas de extensão. O recinto formava um semicírculo de uma ponta a outra da rocha, com cerca de oito varas de raio. A porta da gruta ficava ao centro, dentro da trincheira.

Durante todo este intervalo trabalhei com afinco, apesar de a chuva me contrariar, não só dias inteiros, mas até semanas. Animava-me, porém, a ideia de que, terminada a obra, ficaria perfeitamente defendido. É incrível pensar no trabalho que custou transportar as estacas desde o bosque para a gruta e espetá-las na terra, trabalho tanto mais penoso quanto eu o fazia maior do que era necessário.

Uma vez concluída a muralha e o seu exterior revestido de relva que a ocultava, persuadi-me de que se desembarcasse na ilha alguma gente, não descobririam a existência naquelas paragens de qualquer habitação. Esta precaução constituiu um pensamento excelente, como se verá já a seguir.

Durante este tempo, todos os dias, quando a chuva não mo impedia, ia caçar para a selva, onde fazia frequentemente importantes descobertas. Encontrei uma espécie de pombos silvestres, que não faziam os ninhos nas árvores, como os torcazes, mas nos buracos das penhas como os domésticos.





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