Robinson Crusoe - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 71 / 241

A princípio tomei-os por plantas parasitas; mas a minha admiração atingiu o auge quando, ao cabo de algum tempo, distingui dez ou doze espigas de cevada, em nada inferiores às de melhor qualidade da Europa, e até da própria Inglaterra.

Quase se torna ocioso dizer que tive o cuidado de apanhar aquele grão na altura devida, que era em fins de Junho e, guardando a minha pequena colheita, resolvi semeá-la toda, com a esperança de um dia obter uma apanha suficiente para me fornecer de pão. Mas foi. só no quarto ano que pude permitir-me comer algum trigo e, mesmo assim, muito pouco. O trigo que semeei pela primeira vez desperdiçou-se quase todo, por ter semeado durante a estação seca, o que fez com que se malograsse e perdesse uma grande parte.

Além da cevada havia vinte ou trinta espigas de arroz: guardava-as para o mesmo uso; isto é, para fazer pão, ou outro género de alimento, porque encontrara o modo de cozê-lo sem necessidade de forno; contudo, mais tarde construí um. Mas voltemos ao diário.

Trabalhei com enormes esforços durante três ou quatro meses para construir a minha fortificação, fechando-a em 14 de Abril. Calculei que para me introduzir no recinto seria melhor uma escada de mão do que uma porta, a fim de que não se notasse qualquer indício exterior da existência da habitação.

16 de Abril. - Acabei a escada, graças à qual passava por cima das estacas, retirando-a depois e colocando-a no interior. O meu albergue ficava, assim, completamente fechado; tinha bastante espaço no interior, e ninguém teria podido penetrar nele sem escalar a muralha.

No dia seguinte ao da conclusão do muro pouco faltou para que todos os meus trabalhos fossem destruídos e que eu próprio tivesse perecido. Eis como isso aconteceu: trabalhava atrás da tenda, mesmo à entrada da gruta, quando um acontecimento espantoso me aterrorizou: a abóbada de terra que formava o tecto da caverna desprendeu-se subitamente; dois dos pilares que havia colocado estalaram horrivelmente. Fiquei tolhido de surpresa; desconhecendo ainda a verdadeira causa do sucedido, julguei que toda a gruta se tinha desmoronado.





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