Tamanho foi o espanto que aquele terrível sucesso me causou que fiquei como que aniquilado e quase moribundo. As convulsões subterrâneas produziram no meu estômago o efeito habitual do enjoo nas pessoas que não estão acostumadas a navegar; mas o barulho causado pela queda do penhasco devolveu-me a acção. Saindo, então, do meu estado letárgico e de insensibilidade dirigi a vista em meu redor e vi com horror que a montanha estava muito próxima de se desmoronar sobre a tenda, ameaçando sepultar de vez todas as minhas riquezas. Perante uma tal visão, perdi de novo os sentidos; mas por fim, depois da última sacudidela, comecei a recuperar ânimo embora sem me atrever a saltar a paliçada, com medo de ser enterrado vivo. Quedei-me imóvel, sentado no chão, abatido e sem saber que fazer. Enquanto o desastre durou nenhuma ideia religiosa me ocorreu à imaginação; apenas pronunciava de vez em quando a invocação comum:
- Senhor, tende piedade de mim!
Mas esta súplica cessou logo que o perigo acabou. Enquanto ainda estava sentado no chão, o tempo tornou-se tempestuoso e sombrio, como se se preparasse para chover. Pouco depois, levantou-se o vento e chegou a ser tão violento que em menos de meia hora se formou uma tempestade horrorosa.