Robinson Crusoe - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 73 / 241
Ainda continuava sentado no chão, trémulo e aflito, quando a minha imaginação foi atingida por uma ideia repentina: o vento e a chuva, disse de mim para mim, indicam que não voltará, por agora, o tremor de terra, pelo que já me posso atrever a ir para a habitação. Um pouco animado com este pensamento, ao qual a chuva dava maior peso, saltei a paliçada e fui-me sentar na tenda mas, ensopado pelas torrentes de água que ameaçavam destruí-la, refugiei-me na gruta receando ainda que ela se me desmoronasse em cima.
Esta espécie de dilúvio obrigou-me a empreender uma nova obra: fazer um canal através da fortificação, a fim de dar saída às águas, que sem isso teriam inundado a gruta. Depois de ter permanecido alguns instantes na adega sem notar novas sacudidelas, comecei a recobrar a tranquilidade. E para retemperar o espírito dirigi-me para a minha pequena tenda onde tirei da reserva um pouco de rum, o qual muito economizava, sabendo que não poderia substituí-lo quando acabasse.
Continuou a chover durante toda a noite e parte do dia seguinte de tal modo que me foi impossível sair; com o espírito então mais sereno comecei a reflectir sobre qual a solução a tomar. Eis qual foi a minha decisão: achando-se a ilha sujeita a tremores de terra, não devia fixar a minha morada numa gruta mas sim pensar em construir uma cabana num local descoberto e rodeá-la de uma muralha parecida com a que tinha, na altura, para me defender das feras ou dos selvagens. Estava convencido de que se continuasse na gruta, ela se transformaria, um dia destes, no meu túmulo.
Com tal ideia, resolvi afastar a tenda do local onde se encontrava, que era justamente por baixo do penhasco, e que não poderia deixar de ser sepultada pelo primeiro tremor de terra. Gastei os dias 19 e 20 de Abril a calcular para onde e como transferiria a habitação.