Robinson Crusoe - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 9 / 241

Para cúmulo das desditas, cerca da meia-noite, um homem que o comandante tinha mandado descer para inspeccionar o fundo do porão, gritou que havia lá um rombo por onde entrava água; um momento depois subiu outro dizendo que o porão tinha quatro pés de água. Chamaram então todos para acudirem à bomba. Isto consternou-me de tal maneira que caí de costas em cima da cama, na qual estava sentado. Mas os marinheiros vieram arrancar-me à minha letargia, dizendo-me que, já que até ali não havia servido para nada, naquele momento era capaz como qualquer outro de tirar água. Levantei-me, dirigi-me para a bomba e trabalhei vigorosamente. Enquanto se passava tudo isto, o comandante, vendo alguns barcos pequenos carregados de carvão, que não podiam resistir ao temporal e se tinham visto obrigados, perante a violência do tempo, a seguir para o mar alto, parecendo-lhe que se dirigiam para nós, mandou disparar um tiro de canhão como sinal de perigo. Não compreendendo eu aquilo, fiquei tão surpreendido que julguei que o buque tinha rebentado ou que acontecera qualquer outra coisa horrível. Numa palavra, desmaiei. Como naquela altura toda a gente só se preocupava com a sua própria salvação, ninguém fez caso de mim. Apenas um marinheiro, julgando-me morto, me empurrou com o pé e tomou o meu lugar na bomba. Muito tempo depois recuperei os sentidos.

Continuámos a trabalhar, mas como a água subia cada vez mais no porão, segundo todas as aparências, o buque ia soçobrar; e embora o temporal começasse a diminuir um tanto era, porém, impossível que pudesse aguentar-se na água o tempo bastante para poder chegar ao porto mais próximo. Em vista disso, o comandante continuou a disparar tiros de canhão pedindo auxílio. Uma pequena embarcação que seguia à nossa frente arreou uma chalupa para nos socorrer. Esta acercou-se com grande risco, parecendo-nos impossível que se aproximasse de nós ou que nós pudéssemos alcançá-la.





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