Todas elas rasgavam o próprio peito com as unhas, batiam no corpo com as mãos e tão alto gritavam que, receoso, me aproximei do poeta. «Venha Medusa, que de pedra a tornaremos», gritavam todas, olhando para baixo. «Não estamos ainda bem vingadas do assalto de Teseu.» reviraste de costas e fecha os teus olhos, pois, se a Górgone surgisse e tu a visses, não mais conseguirias passar deste lugar», disse-me o mestre, e ele próprio me virou e, não confiando nas minhas próprias mãos, com as dele os olhos me cobriu.
Ó vós que tendes são o pensamento, vede a doutrina que sob o verso obscuro como um véu se oculta!
E já vinha pelas turvas ondas o fragor de um som horrendo, que fazia estremecer ambas as margens, tal como um impetuoso vento, de rajadas contrárias, abala a floresta e sem descanso quebra os ramos, que derrubando arrasta, e soberbo e poeirento avança, pondo em fuga, quer pastares, quer animais. Destapou-me os olhos e assim disse: «Dirige agora a vista para aquela espuma antiga, além onde o fumo é mais espesso.»
Como as rés diante da inimiga cobra fogem todas pela água até na terra se abrigarem, vi mais de mil almas destroçadas fugir assim diante de alguém, que a pé enxuto o Estige atravessava. Afastava do rosto aquele espesso ar, com frequência movendo a mão esquerda, e só esse embaraço parecia cansá-lo. Bem percebi que era um enviado do Céu e voltei-me para o mestre, que me fez sinal para manter-me quedo e me inclinar. Ah, como me pareceu cheio de desdém! Chegado à porta, abriu-a com uma varinha, pois não houve resistência. «O expulsos do Céu, ó desprezível gente!», começou a dizer no horroroso umbral. «Em que se baseia esta vossa arrogância? Porque recalcitrais perante essa vontade contra a qual ninguém pode e que tanta vez a dor vos aumentou? De que vos serve lutar contra o destino? O vosso Cérbero, se bem vos recordais, traz ainda pelado o queixo e o focinho.»