Existia algo de defensivo no contacto com o corpo pequeno e bem torneado. Ela ansiava por conhecer o significado do amor físico, mas, ao mesmo tempo, temia-o. Destruir-lhe-ia a juventude, o mundo juvenil sem sexo em que decidira viver. 
Ele descolou a boca da dela para perguntar: -Amas-me? 
- Decerto, tonto. Porque estás sempre a perguntar-me isso? 
- Gosto de te ouvir dizê-lo. Nunca me sinto seguro de ti até que o dizes. 
- Mas porquê? 
- Bem, podes ter mudado de' ideias. No fundo, não sou exactamente a resposta às preces de uma donzela. Tenho trinta anos e, ainda por cima, carcomido. 
- Não digas disparates! Quem te ouvisse, julgaria que tens cem anos. Somos da mesma idade, como sabes. 
- Sim, mas tu não estás carcomida. 
Rosemary roçou a face pela dele e sentiu a aspereza da barba de dois dias. Os ventres estavam colados. Gordon pensava nos dois anos durante os quais a desejava e nunca a possuíra. Com os lábios quase pousados na orelha dela, murmurou: 
- Alguma vez dormirás comigo? 
- Sim, um dia. Mas não para já. Um dia. 
- É sempre «um dia». Há dois anos que não dizes outra coisa. 
- De acordo, mas não o posso evitar. 
Tornou a comprimi-la contra a parede, afastou o absurdo chapéu e afundou o rosto no cabelo. Era torturante estar tão perto dela para nada. Colocou-lhe a mão debaixo do queixo e inclinou o pequeno semblante para cima, numa tentativa para distinguir os traços fisionómicos na escuridão quase total. 
- Diz que sim, Rosemary. Vá, querida! 
- Sabes que direi, um dia. 
- Pois sim, mas não um dia. Agora. Não me refiro a este momento, mas em breve. Quando tivermos uma oportunidade. Diz que sim! 
- Não posso. Não posso prometer nada. 
- Diz que sim, Rosemary. Por favor! 
- Não. 
Acariciando o rosto invisível, Gordon citou: 
Veuillez le dire donc selon 
Que vaus êtes benigne et douce, 
Car se doux mot n'est pas si long 
Qu'il vous fasse mal en la bouche. 
- Que quer isso dizer? - Ela fez uma pausa, enquanto ele traduzia. - Não posso, Gordon. Não posso, pronto.