- Que há-de ser? Vaguear por aí, com cara de enterro, como todos os outros.
- Por que não vamos passear ao campo, algumas vezes? Ficávamos com todo o dia por nossa conta. No próximo domingo, por exemplo?
Estas palavras fizeram Gordon experimentar um calafrio. Voltaram a suscitar-lhe o pensamento do dinheiro, que conseguira manter ausente do espírito durante cerca de meia hora. Um passeio ao campo custava dinheiro, muito mais do que ele podia gastar. Assim, numa inflexão assaz prudente que transferia tudo para os domínios da abstracção, replicou:
- Não se está mal em Richmond Park, ao domingo. Ou mesmo em Hampstead Heath. Em especial, se se vai para lá de manhã, antes de aparecerem as grandes multidões.
- É melhor irmos ao campo. Algures em Surrey, por exemplo, ou Burnham Beeches. Está-se lá muito bem, nesta altura do ano, com o chão coberto de folhas secas, e pode-se passear todo o dia sem encontrar ninguém. Percorreremos quilómetros e quilómetros a pé e comeremos num botequim. Vai ser tão divertido! Combinado?
Demónio! Reaparecia a questão do dinheiro. Uma deslocação a Burnham Beeches não custaria menos de dez xelins. Ele procedeu a um rápido cálculo mental. Talvez arranjasse cinco, e Júlia «emprestar-lhe-ia» outros cinco; ou, melhor, dar-lhos-ia.
No mesmo instante, recordou-se do juramento que fizera, constantemente renovado e sempre quebrado, de não pedir dinheiro «emprestado» à irmã.
- Sim, seria divertido - concedeu, em tom reservado.- Talvez possamos ir. Voltaremos a falar no assunto mais perto do dia.
Emergiram da rua estreita ainda de braço dado.
Havia um botequim junto da esquina. Rosemary pôs-se em bicos dos pés e, apoiando-se ao braço de Gordon para se equilibrar, conseguiu espreitar por cima da metade inferior do vidro fosco da montra.
- Há um relógio na parede. São quase nove e meia. Não tens fome?
- Não - mentiu ele com prontidão.
- Pois eu tenho. Estou mesmo faminta. Vamos trincar qualquer coisa algures.